Resiliência







Aqui estamos todos, não somente por aqui, na América Latina, mas o mundo inteiro em enclausuramento. Coisas que antes eram vulgares agora se ressignificaram, como, por exemplo, fazer uma refeição caseira, ouvir um álbum inteiro, colocar a leitura em dia, fazer rituais de beleza, ou… só olhar através da janela e contemplar nosso ardente sol.

Não sei se, acaso a situação fosse outra, as pessoas prestariam atenção na explosão de cores que, por vezes, o entardecer tem desenhado no teto do mundo ultimamente. 

Como, em uma sociedade tão acelerada, é possível reduzir a marcha e, por alguns momentos, tornar as pilhas de obrigações menos urgentes? Somente por forças maiores, tal qual a preocupante pandemia atual para alcançar esse feito impensável noutros tempos.

O futuro hoje parece uma gosma informe e improvável. De repente, fazer planos não parece tão simples. 

Já lamentamos os beijos e abraços não dados, sentimos saudades das boas conversas jogadas fora com a comadre e o compadre confidente. Ver os pais idosos ficou para o porvir. Mas, que porvir seria esse? Quando a vida é tão imprevisível, ela simplesmente acontece, as coisas vêm e vão, e, talvez, os velhos não possam mais esperar.

O isolamento tornou o mundo menor, apequenou as fronteiras.

No estágio inicial da quarentena a primeira reação foi de pânico. Aos poucos todos tiveram de parar de latir e aceitar as correntes da coleira. Não adianta mais rosnar, o silêncio virou habilidade e a resiliência aconteceu na marra.

Não há nada de novo abaixo do sol, e no fim das contas, é mesmo na escuridão que todos aprendem enxergar o crepúsculo.

O futuro vem feito trem desgovernado

E estamos notando o quão a solidão ensina, afinal, solicitude é barra. Ficar consigo mesmo tem seus altos e baixos.

O sol hoje morreu no horizonte, já amanhã não sabemos. Atualmente nem do papel higiênico podemos aguardar garantias.








0 Comentários:

Postar um comentário

Quer adquirir meus livros?

ENTRE EM CONTATO COMIGO